Antes de sua invenção, que ocorreu por volta do século XIX, as pessoas tinham por hábito promover a limpeza pessoal intima com folhas de hortelã, água e por vezes sabugos de milho.
Ressalto que não sou especialista do assunto, mas com uma breve pesquisa na internet descobri que o papel higiênico foi inventado na China, em 875. A invenção também já foi atribuída a Joseph Gayetty, de Nova Iorque em 1857.
Estou escrevendo a respeito deste assunto por conta de uma polêmica campanha publicitária contratada pela empresa Santher, fabricante de produtos descartáveis e de uso doméstico, para promover seu recente lançamento: o papel higiênico Personal Vip Black.
Papel higiênico Personal Vip Black (Santher/Divulgação)
Eu sou do tempo das marcas de papel higiênico Tico-Tico e Primavera e tenho a impressão de que alguns dos leitores jamais ouviram falar destas marcas.
As folhas deste produto eram cor de rosa, não possuíam aroma e tampouco ofereciam a opção de serem úmidos. Não eram muito agradáveis de serem utilizados, por de sua aspereza, mas enfim era o que existia na época.
Naquele período não existia esta história de politicamente correto, homens que se atreviam a utilizar roupas desta cor eram discriminados e sofriam severo preconceito e chacotas das mais variadas espécies.
Hoje a cor “rosa” é associada a uma causa muito nobre, que é a prevenção e controle do câncer de mama.
Estamos vivendo em um tempo que a expressão de opiniões podem gerar reações das mais adversas espécies e contra os mais variados grupos sociais.
Do ponto de vista legal a publicidade possui um efeito muito importante na sociedade que é divulgar a existência do produto para mercado. De outro lado, ela se presta a informar ao consumidor acerca das características do produto a fim de que o consumidor possa escolher livremente da marca que melhor atende suas necessidades.
Papel higiênico Personal Vip Black (Santher/Divulgação)
Voltando a questão do lançamento do papel higiênico Personal Vip Black, salvo melhor juízo, fico com a impressão de que a agência que desenvolveu a campanha publicitária se apropriou do termo #Blackisbeautiful, que foi utilizado para caracterizar um movimento criado na década de 1960 por artistas e intelectuais contra o racismo. Esta conduta não se mostrou das mais apropriadas, vez que acabou associando seu produto a um movimento que mudou a história do mundo.
Apesar de esta campanha ter atingido seu objetivo comercial no que se refere a divulgação do produto, tenho a impressão de que a falta de criatividade acabou por resvalar na apropriação de uma ideia e da violação de princípios éticos fundamentais que norteiam a atividade publicitária.
Vivemos tempos estranhos em que as pessoas não refletem se suas ações são frutos de suas opiniões e pensamentos ou simplesmente estão seguindo o fluxo de uma multidão que repete comportamentos e não hesita em, proposital ou inconscientemente, a provocar a “banalização do mal” do qual falava Hannah Arendt (1906-1975).
Marco Antonio Frabetti, Mestre em Direito, Professor Universitário e Advogado
